A solidão costuma ser vista como ausência: ausência de pessoas, de conversa, de companhia. Mas quem já a sentiu de perto sabe que ela pode estar presente até mesmo em meio a uma multidão. Podemos estar rodeados de gente e, ainda assim, sentir um vazio que nada preenche.
Esse é o paradoxo dos vínculos humanos: buscamos a presença do outro, mas a verdadeira conexão não se garante apenas pela proximidade física. Ela depende de encontro, de contato, de disponibilidade para estar junto de forma autêntica.
Na clínica, muitas pessoas chegam trazendo a dor da solidão. Às vezes, vivem relações cheias de ruído, mas pobres em diálogo. Outras vezes, experimentam o isolamento como forma de se proteger de feridas antigas. Há também quem carregue o medo de ser rejeitado e, por isso, evita se aproximar.
A Gestalt-terapia nos convida a olhar para a solidão não apenas como falta, mas também como possibilidade. Estar só pode ser espaço fértil de escuta de si, de reencontro com desejos e de descanso das pressões externas. Ao mesmo tempo, é no contato genuíno com o outro que nos reconhecemos como parte de algo maior.
Viver é atravessar esse movimento entre solidão e companhia. É aceitar que nenhum vínculo nos preenche por inteiro, e que isso não é falha, mas condição humana. O encontro com o outro pode ser profundo e transformador, mas nunca elimina a necessidade de também nos encontrarmos conosco.
No fim, talvez o desafio seja aprender a não fugir da solidão, mas habitá-la. E, a partir dela, escolher vínculos que não sejam apenas presença física, mas presença verdadeira.